O Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) reúne professores e estudantes de cursos como Direito, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Serviço Social, entre outros,  de diversas universidades brasileiras, e conta com a participação de movimentos sociais do campo e da cidade, profissionais do Direito e assessores populares.

II Oficina Direito para quem? – 2024

II OFICINA DIREITO PARA QUEM? - 2024 1º Módulo: Introdução à Assessoria Jurídica Popular e às Teorias Críticas do Direito. Duração: 08/06/2024 a 27/07/2024, aos sábados, de 09:00 às 12:00 (hora de Brasília), On-line pelo Google Meet Coordenação do curso: Luiz Otávio...

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  Com imenso pesar, o Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) comunica o falecimento de nosso associado, André Filipe Pereira Reid dos Santos, em Vitória, no Espírito Santo. Nascido em Macaé, no Rio de Janeiro, pai de 3 filhos, partiu aos 48...

Coluna Direitos e Movimentos Sociais – Brasil de Fato

 

 

 

 

Conselho e Sistema de Participação Social: entenda estruturas criadas pelo governo de Lula

Por Anjuli Tostes*

Palco de eventos presidenciais, o imponente átrio do Palácio do Planalto estava diferente. Vidros trincados e madeirites tampando janelas denunciavam o desprezo colérico que tomou conta da Sede do Executivo Federal dias atrás. Os sinais de destruição, no entanto, contrastam com os sorrisos e os gestos animados dos participantes, que não paravam de chegar e se dirigiam, sem muita pressa, para perto do palco. O formigueiro multicolorido se dividia em rodas, aglomerações maiores e menores, abraços calorosos de velhos amigos e apertos de mão. A torrente fazia com que as pessoas se esbarrassem com frequência para conseguir se movimentar. As expressões acolhedoras perante os pedidos de desculpas mostravam que o contato corporal não era, necessariamente, um problema, ou mesmo algo indesejável.

A desconexão entre o cenário e o clima festivo não era a única coisa que, imageticamente, tornava aquele momento singular. O figurino dos presentes se diferenciava, de forma gritante, dos tradicionais ternos cinzentos e pretos – ou, seguindo a tendência atual, em tom azul royal – que costumam desfilar pelo Salão Nobre. Cocares, colares, camisetas. Indígenas, mulheres, gente preta. Bandeiras, muitas bandeiras. Para vários dos habitués das solenidades do Palácio do Planalto nos últimos seis anos, aquele dia, e não o 8 de janeiro, representava uma verdadeira invasão. Para os que estavam ali, no entanto, o sentimento era bem outro. Era o povo que voltava, emblematicamente, a adentrar os espaços de poder.

Transcender ao símbolo, no entanto, não será tarefa fácil. Naquele dia, o presidente Lula assinou dois decretos, que instituíram, respectivamente, o Conselho e o Sistema de Participação Social Interministerial. O Conselho de Participação Social dá continuidade aos trabalhos iniciados durante a transição governamental e é presidido pelo próprio Presidente da República. Além de autoridades da Secretaria-Geral da Presidência da República – o Ministro, a Secretária-Executiva Adjunta e os três Secretários Nacionais -, integram o Conselho 68 representantes de organizações indicadas e designadas em ato do Ministro de Estado da SG/PR – superando, numericamente, as 57 existentes durante a transição.

Por sua vez, o Sistema de Participação Social Interministerial – é formado pelas recém-criadas “Assessorias de Participação Social e Diversidade” dos Ministérios e pelas unidades administrativas responsáveis pela área de participação social. No centro do sistema está a Secretaria-Executiva da SG/PR. Segundo o Decreto 11.407/2023, que o instituiu, o Sistema de Participação Social terá como missão “estruturar, coordenar e articular” as relações do governo com os diferentes segmentos da sociedade, de forma transversal às políticas públicas.

Os assessores e assessoras de participação social, referências da política de participação social em cada pasta, deverão ser, nas palavras do Ministro de Estado da SG/PR, Márcio Macêdo, servidores que “gostem do povo e tenham compromisso com o povo”. A estes, caberá articular e fomentar as relações políticas de cada ministério com a sociedade civil, fortalecer e coordenar os mecanismos e as instâncias de participação social, bem como definir diretrizes e orientações para as parcerias e relações com organizações da sociedade civil. Competirá a estes, ainda, assessorar direta e imediatamente as ministras e ministros de Estado na formulação de políticas e diretrizes para a promoção da participação social, da igualdade de gênero, étnica e racial, e para a proteção dos direitos humanos e o enfrentamento das desigualdades sociais e regionais.

O projeto busca estar à altura dos desafios postos. As estruturas, tanto do Conselho quanto do Sistema, visam a fazer da participação social parte do dia a dia da máquina pública, para além do discurso ou das boas intenções. Visam, em uma palavra, fazer o povo presente, seja no conteúdo como na forma de promover as políticas públicas.

No entanto, entre a existência de uma estrutura com competências bem definidas e o avanço efetivo da democracia direta e do controle social há uma distância importante, e isso torna o desafio ainda maior. É preciso, para além de fomentar, coordenar e articular, também medir.

São fundamentais, portanto, o monitoramento e a avaliação contínua das políticas de participação social para que os insumos gerados nos processos participativos sejam de fato considerados pelos gestores na formulação e execução das políticas públicas. Do contrário, mecanismos que possuiriam um caráter pedagógico, do ponto de vista democrático, poderão ter um efeito contrário, gerando frustração, deslegitimação e abandono. É necessário produzir um sistema de indicadores que permita avaliar, principalmente, a eficácia e a efetividade da participação social, de modo que o valor democrático intrínseco das instâncias e mecanismos participativos seja potencializado.

Importa, também, que as políticas de participação e de transparência caminhem lado a lado. A participação da população só é efetiva quando é bem informada. No entanto, não basta que os dados necessários aos processos participativos estejam em linguagem e formato acessíveis aos diferentes segmentos da sociedade. O próprio modo de funcionamento dos mecanismos e instâncias de participação também precisa ser “transparente” – ser compreensível a seus interlocutores, dialogar com os modos de vida das populações que se visa a politicamente incluir no território.

Aqui, deve-se atentar, em especial, à importância de se levar em consideração as singularidades das populações tradicionais, que, para além do aspecto linguístico, se diferenciam também na sua forma subjetiva de perceber e estar no mundo. A criação do Ministério dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial terá um papel relevante para ampliar as possibilidades de os povos indígenas e comunidades quilombolas terem voz sobre as políticas e serviços públicos que afetam diretamente as suas vidas. Mais ainda, para potencializar a expressão de sua cosmovisão na disputa com o modo de vida profundamente destrutivo para o planeta que o sistema econômico que tem no lucro e na acumulação seu valor maior representa.

Por fim, tanto para medir quanto para traduzir é necessário entender. Fazer o povo presente passará por recompor o tecido social rompido, e, para isso, será necessário superar as condições que levaram ao crescimento do fascismo no Brasil, sem perder de vista de que o fenômeno que temos diante de nós ultrapassa fronteiras. Estamos prontos para dialogar com os que querem nos destruir? A retomada da trajetória democrática tem desafios enormes, que superam as perdas patrimoniais expressas nas janelas e obras de valor histórico e cultural vandalizados. Investir em diagnósticos envolvendo pesquisas sociais, etnologias, grupos focais será fundamental para nos ajudar a reencontrar o caminho.

* Anjuli Tostes é Advogada Popular, Auditora da Controladoria-Geral da União, Doutoranda em Direito e Economia na Universidade de Lisboa e integrante da Secretaria de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo

 

 

A luta pela soberania alimentar no Brasil

Por Diana Chaib*

Divulgado em junho de 2022, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil revelou que apenas 4 de um total de 10 famílias conseguem acesso pleno à alimentação. No ano de 2022, 33,1 milhões de brasileiros não tinham o que comer. Isso significa que nosso país registrou 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em um período de um pouco mais de um ano. A pesquisa mostra ainda que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome).

Vários foram os fatores que tornaram o quadro desta pesquisa ainda mais perverso: o descaso e a negligência do governo Bolsonaro (2019 – 2022) no que diz respeito a questões sociais e econômicas, o desmonte das políticas públicas, a piora no cenário econômico durante o período pandêmico, o aprofundamento das desigualdades sociais no Brasil, dentre outros.

Diante disso, e apesar do Brasil ser um grande produtor e exportador de produtos primários, grãos e alimentos no geral, esse quadro traz à tona alguns dos principais desafios existentes no cenário atual relacionados à luta pela soberania alimentar quais sejam: acabar com a fome, promover a segurança alimentar, melhorar a nutrição da população e fomentar a agricultura sustentável.

Teoricamente, soberania alimentar implica no direito e na autonomia da população de um país de organizar a produção e a distribuição dos alimentos. Além disso, a soberania alimentar se baseia na ideia de cultivo de alimentos e hábitos saudáveis, que respeitam o meio ambiente e que são desenvolvidos em sistemas locais de produção.

Um país ter soberania alimentar significa que existe uma política nacional de produção e distribuição que garanta alimentação suficiente para todo o seu povo, estabilidade para enfrentar problemas sazonais como por exemplo queda na produção devido a um fator climático, variedade nos alimentos que possibilite uma alimentação equilibrada e com os nutrientes necessários e justiça e igualdade no que diz respeito ao acesso de cada cidadão, tanto em quantidade como em qualidade.

Dramaticamente, nosso país está longe de ter alcançado a soberania alimentar.

A luta pela soberania alimentar está em uma linha tênue com a questão da democratização do acesso à terra, o desenvolvimento de modelos produtivos sustentáveis e a agricultura familiar. Temos visto, historicamente, a necessidade de garantir o acesso à terra para que os agricultores e camponeses possam trabalhar, garantir a viabilidade de técnicas da agroecologia que permitem uma produção de alimentos livre de venenos e, consequentemente, mais saudáveis, elaboração de políticas que incentivem a formação de cooperativas agroindustriais, dentre outros.

Além dos pontos destacados e de prover a autonomia alimentar do povo de um país, a luta pela soberania alimentar está associada à geração de empregos e um contexto no qual o país consegue diminuir a dependência das importações, não se sujeitando tanto a flutuações dos preços no mercado externo.

Apesar do quadro crítico que o Brasil se encontra, é inegável que a eleição do presidente Lula foi um passo decisivo e importante no que diz respeito à luta pela soberania alimentar no país.

A soberania alimentar é uma demanda atual e urgente.

Inclusive, essa é umas das principais pautas do atual governo.  Nas palavras do presidente Lula: “Primeiro, nós temos que entender que todo e qualquer país do mundo que queira ter o mínimo de soberania tem que ter um programa de segurança alimentar.  E ele tem que ter uma política concreta de um estoque regulador para que, em qualquer momento de crise, não falte alimento no seu país”.

Um marco importante nessa luta foi a reativação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que tem como objetivo garantir a existência de uma política de segurança alimentar e nutricional ao povo brasileiro. O órgão, conhecido por contribuir para retirar o Brasil do mapa da fome em 2014, havia sido desativado em 2019, sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A construção da nossa soberania alimentar é um desafio extremamente necessário pelo qual devemos continuar lutando. Nessa luta, a nossa participação social se faz cada vez mais relevante, identificando e dimensionando o problema, para assim poder demandar dos nossos representantes cada vez mais políticas públicas direcionadas que atendam as nossas prioridades.

* Diana Chaib é economista e doutoranda em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG. É especialista em Macroeconomia e tem interesse nas áreas de crescimento econômico, desenvolvimento econômico e economia da China.

** As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo

Editorial

Editorial – 10 anos de InSURgência: um viva à pesquisa militante e à defesa da luta e dos movimentos populares

Leonardo Evaristo Teixeira, Guilherme Cavicchioli Uchimura, Ricardo Prestes Pazello

Pachukanis: primeiro como InSURgência, em seguida como Práxis

Ricardo Prestes Pazello, Guilherme Cavicchioli Uchimura, Moisés Alves Soares

Diálogos inSURgentes

A mulher Munduruku na luta pela vida e território do seu povo: entrevista com Maria Leusa Munduruku

Maria Leusa Munduruku, Inara Flora Cipriano Firmino, Rodrigo Portela Gomes

40 anos em movimentos, uma vida pela juventude negra: entrevista com Deise BeneditoMunduruku

Deise Benedito, Inara Flora Cipriano Firmino, Emília Joana Viana de Oliveira, Rodrigo Portela Gomes