https://www.brasildefato.com.br/2019/05/24/dia-nacional-do-cigano-o-que-comemorar/

Por Phillipe Cupertino e Maria Jane Soares Targino Cavalcanti*

“A minha existência é uma militância diária”, respondeu um professor universitário cigano ao ser perguntado sobre quando teria começado a sua militância pelos direitos dos ciganos. Os povos ciganos sempre lutaram. Trata-se de um povo em movimento. Pela vida, pelo direito de existir, conforme suas tradições, normativas e valores. Povos em movimento pela sobrevivência digna.

Há ciganos em praticamente todas as partes do mundo, assim como do Brasil. Embora haja diferenças, o preconceito, a violência e as constantes expulsões são um ponto comum na vivência desses povos. Apesar de todas adversidades, atravessadas ao longo dos séculos, os ciganos insistem na preservação do seu ser, não abrem mão de serem ciganos.

Os ciganos encontram-se no território hoje chamado de Brasil desde os primeiros anos da colonização, no século XVI. Contudo, a invisibilidade é outra marca deste povo, é o não-ser, supostamente sem origem, sem cultura, vistos como intrusos, estrangeiros, mesmo que tenham contribuído por séculos para a formação cultural, econômica, política e social brasileira. Os ciganos não estão apenas excluídos da sociedade, como também da história e do direito de narrar sua história.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, em 25 de maio de 2006, o decreto que estabelece 24 de maio como o “Dia Nacional do Cigano”. Esta data é sinônimo de esperança para os ciganos, do direito de sonhar e ser visto como parte do povo brasileiro. De ser reconhecido como gente. É um marco para a história dos ciganos, simbolizando também a aproximação destes povos com o Estado, no sentido de promover políticas públicas, participar dos conselhos e órgãos colegiados.

Mas os ciganos não estão satisfeitos. E nem deveriam estar, pois, entre os  brasileiros, são os que possuem os piores indicadores sociais. Por isso, exigem ações especificas na educação, da básica à universitária, saúde, assistência social, segurança, acesso ao mercado de trabalho. As reivindicações são infinitas!

Não há como incluir de fato os povos ciganos enquanto existir um projeto de país que trate a educação, a saúde e a cultura como um gasto e não como um investimento. Enquanto não reconhecer que o racismo, e o anticiganismo como uma das suas expressões, são partes centrais na constituição das relações de poderes e da luta de classes no Brasil.

Esta sexta-feira, 24 de maio, é um dia sim para celebrarmos os ciganos, sua existência e suas riquezas culturais. Mas é também um dia para desmascararmos o mito da democracia racial no Brasil. Enquanto o povo negro, os quilombolas, os povos indígenas e os ciganos não estiverem, de fato, no poder, estar em movimento não é uma opção, mas uma necessidade!

*Phillipe Cupertino é professor da UEG e doutorando em Direito pela UFRJ; Maria Jane Soares Targino Cavalcanti é militante cigana e integrante titular do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR).

Edição: Daniela Stefano

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