Nota de Repúdio à violência de gênero ocorrida no VI Seminário Direitos, Pesquisa e Movimentos Sociais
Nos últimos dias se consolida um golpe de Estado em nosso país, aprofundando uma agenda política de retrocessos de direitos e criminalização das lutas sociais. Estamos certos de que este recrudescimento democrático aprofunda também um cenário de retrocessos no campo das questões de gênero e da sexualidade.
O Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) pretende se constituir enquanto um espaço de produção de conhecimento e de compartilhamento de ações voltadas a uma transformação radical da sociedade, o que significa dizer, para nós, a luta incessante pela superação das teias de opressões e exploração que se entrecruzam no sistema-mundo do capital, constitutivamente machista, racista e LGBTfóbico.
Infelizmente nossos espaços ainda não são alheios a atitudes reprodutoras de opressões. Em nosso último Seminário Nacional, ocorrido entre os dias 23 e 27 de agosto de 2016, em Vitória da Conquista-BA, uma de nossas associadas foi abordada de maneira ofensiva e misógina por outro integrante do Instituto. Sem qualquer contextualização, a companheira teve que ouvir, em espaço público e estando ao lado de outros militantes, falas de cunho sexual e pejorativo, com nítido tom de rebaixamento pela sua condição de mulher, o que lhe causou grande constrangimento, sentindo-se humilhada.
Outros relatos nos chegaram considerando as atitudes deste integrante como sexistas e/ou incompatíveis com as relações que almejamos construir de respeito e solidariedade na construção da pesquisa militante.
É preciso que se conscientize da construção social da desigualdade de gênero. Essa estrutura de poder desigual possui muitas facetas. Expressa-se em âmbitos econômicos, políticos, culturais e, também, por meio da violência. Ademais, destaca-se que a violência de gênero não é apenas a física, mas também se apresenta de outras formas, como a violência psicológica, muito mais sutil e naturalizada em uma sociedade pautada pela cultura do estupro. A “sutileza” com a qual esta violência às vezes se apresenta, contudo, não deve diminuir a sua brutalidade enquanto mediadora das relações sociais.
Entendemos que um importante passo para a desconstrução do machismo, inclusive o machismo perverso e enrustido dentro de espaços da esquerda, é a politização do fato e, por isso, declaramos publicamente o nosso repúdio a este episódio e afirmamos que o Instituto almeja se constituir como um espaço seguro e livre para as mulheres. Não toleraremos (e combateremos!) quaisquer ações que ameacem essa possibilidade.
INSTITUTO DE PESQUISA, DIREITO E MOVIMENTOS SOCIAIS
Vitória da Conquista – BA.