Como a juventude constrói resistência em tempos em que nem a verdade está assegurada?
Por Esdras Cordeiro*
“Senhores juízes: por que tanto interesse para que me cale? Por que, inclusive, se evita todo gênero de arrazoado para não apresentar argumentos? Será que não existe nenhuma base jurídica, moral e política para apresentar seriamente a questão? Teme-se tanto a verdade?”
Estas são palavras do discurso do jovem Fidel Castro ao Tribunal de Exceção do governo de Fulgêncio Batista. O ano era 1953 e as palavras viriam a fazer parte de sua defesa pós assalto ao Quartel-General de Moncada.
A Justiça Cubana mostrava sua face anti-povo. O que vivemos hoje no cenário brasileiro é também costurado por esse ator, o Poder Judiciário. O tempo que vivemos encarcera em massa, criminaliza lutadores do povo, remodela os marcos legais deformando códigos e esvazia a Constituição Federal, aquela que deveria ser um documento vivo e que tem a impressão digital de tantas lutas democráticas e populares.
O Brasil de agora pode ser analisado pela lente da pergunta feita por Fidel: “Teme-se tanto a Verdade?”
Teme-se a verdade quando se elenca Paulo Freire como inimigo, num anti-projeto de país, e se asfixia o fomento, entrada e permanência a espaços de ascensão social e intelectual como as Universidades Públicas.
Se em outubro de 2018, nós do lado de cá, temíamos pelo nosso presente, síntese tão expressa no lema que tomou a internet com o “ninguém solta a mão de ninguém”, hoje tememos pelo nosso futuro na figura da luta que se tornou unitária no nosso país, a luta pela educação.
Sindicalistas, petroleiros, assentados, professores e sobretudo estudantes universitários e secundaristas tomaram as ruas nos dias 15 e 30 de Maio. Voltaram com seus cartazes e faixas em 15 de agosto e se preparam novamente para, com mais fôlego ainda, inundar as ruas de palavras de ordem pela educação e contra os cortes em mais uma grande manifestação em 07 de Setembro. A juventude se faz presente e se coloca como linha de frente da luta contra a fascistização da política.
É preciso dizer com todas as letras e grifá-las: os estudantes, reunidos ao redor da figura de sua entidade nacional, estão se constituindo como maior polo aglutinador de resistência contra o governo Bolsonaro.
A União Nacional dos Estudantes hoje é mais povo brasileiro do que já havia sido em toda a sua história. Composta num caldeirão de tradições e pensamentos sobre o alcance da soberania do povo brasileiro, essa entidade mostra sua pujança exatamente na capacidade de espelhar diversas matizes. A resistência das ruas de hoje vive através dos estudantes que antes não estavam nas universidades, de netos de agricultores, filhos do sertão e de sertanejos, passando pela juventude indígena, periférica, como também na figura dos filhos da reforma agrária popular.
Esses sujeitos, tão jovens e tão inexperientes, poderiam se perguntar: “o que temos hoje para resistir?” A verdade é que temos todo o patrimônio de luta dos povos latino-americanos para aprender e ensinar, dos estudantes aos bairros.
Para finalizar, de uma vez por todas, “teme-se tanto a verdade?” A resposta é sim, pois a verdade reside na participação do povo, e se hoje a verdade se desdobra na luta pela educação, quantas mais vierem pela frente continuarão desdobrando o povo brasileiro em suas criatividade e resistências incessantes. Assim a juventude segue aprendendo com os que vieram antes de nós a fim de, firmemente, construir o futuro.
*Esdras Cordeiro é estudante de Direito na UFPE, integrante do GT de educação popular e jurídica do IPDMS, coordenador de relações públicas da Federação Nacional dos e das estudantes de Direito e militante do Levante Popular da Juventude.
Edição: Daniela Stefano