Motivadas por questões fáticas recentes, as mulheres do GT Gênero e Sexualidade do Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) vêm enfatizar importância da reflexão quanto a situações de assédio de mulheres nos espaços de militância.
Ser mulher implica, na sociedade em que vivemos, estar em constante estado de opressão e insegurança. A violência contra a mulher se materializa das mais diversas formas, mas apenas quando ela é manifesta fisicamente recebe o status de indubitável. No entanto, nós, mulheres, não temos dúvida da eficácia destrutiva de opressões psicológicas e morais.
Infelizmente os espaços de militância não estão imunes à violência contra a mulher, especialmente aquela que não deixa marcas físicas, que domina e agride simbolicamente. São inúmeros os relatos de companheiras, integrantes das mais diversas organizações, de atitudes opressoras de seus companheiros de militância. As consequências disso são nefastas a nós. É desleal que estes obstáculos pareçam naturais aos caminhos de nós, mulheres. Mas o feminismo permite que resistamos a lugares hostis à nossa presença, cuja violência impetrada nos joga paulatinamente para escanteio e individualiza dramas que além de coletivos, são generalizados. No entanto, os espaços de militância são os últimos em que esperamos que agressões sexuais aconteçam.
Sabemos que normalmente viajamos para diversos espaços devido à nossa militância e que muitas vezes nos hospedamos na casa de companheiras e companheiros que não conhecemos bem, mas nxs quais confiamos por serem tidos como verdadeirxs companheirxs na construção de um projeto de mundo emancipador, um projeto onde não haja espaço para violência.
Em um dos últimos espaços nacionais que tivemos, uma companheira relatou um caso de assédio praticado por um homem tido como companheiro de militância. Ela estava hospedada na casa dele e as atitudes deste foram complemente invasivas e deixaram a companheira em uma situação extremamente angustiante. Sentir-se agredida e ameaçada por qualquer pessoa é extremamente sério, quando a agressão vem de uma pessoa tida como companheiro de luta torna-se ainda mais grave. Dessa forma, devemos tratar este fato com a devida seriedade e cuidado. Neste caso, conta-se ainda com o agravante de a companheira estar em uma cidade desconhecida e sem pessoas próximas por perto, longe de sua rede de confiança e socorro, sendo surpreendida por uma situação que não teve condições emocionais e materiais de reagir mais ostensivamente.
Sabemos todxs que situações de dominação reiteram o afastamento das mulheres dos espaços políticos, públicos. Cabe aos homens militantes reverem suas práticas e se questionarem constantemente sobre os seus comportamentos – muitas vezes opressores, mas naturalizados pelo sistema patriarcal. É possível que os homens não notem que suas atitudes foram invasivas e machistas. Se isso se dá é porque não há reconhecimento e reflexão verdadeiros sobre os privilégios de ser homem, o que já seria grave em qualquer contexto e se torna extremamente violento em um espaço de militância, no qual achamos que estamos seguras e somos respeitadas.
Quanto a casos de assédio sexual especificamente, temos, infelizmente, que reiterar o óbvio: quando dizemos não, é NÃO. O não pode ser expressado verbal e corporalmente e sempre deve ser respeitado. Nada justifica a insistência, que também pode ser apenas corporal e velada, depois de um não.
Esta nota busca denunciar esta violência que a nossa sociedade patriarcal invisibiliza e busca publicizar o quanto somos ainda desrespeitadas nos diversos espaços em que estamos. Busca, ainda, colocar em evidencia a discussão de fatos como este dentro das nossas organizações, para que o assunto seja refletido e debatido e, principalmente, para que fatos como este nunca mais aconteçam.
Convidamos o IPDMS à reflexão para a construção de um espaço onde não haja opressão contra as mulheres – pelo qual seguiremos lutando.